Segundo informações da família, Daniel trabalhava como vendedor de carros no Brasil e decidiu se alistar motivado pela promessa de um salário mensal de aproximadamente R$ 25 mil, além do desejo de ajudar na causa ucraniana. Ele deixou dois filhos e a companheira, com quem conversava todos os dias por videochamadas até o último final de semana.
A esposa contou que, nos quatro meses em que Daniel permaneceu no front, ele nunca recebeu integralmente o valor acordado. Nos dois primeiros meses, teria recebido cerca de R$ 7 mil, e nos dois últimos meses não recebeu nenhum pagamento. De acordo com Letícia, havia também a promessa de uma indenização em caso de morte, que deveria ser paga à família dentro do prazo de um ano, mas até agora não houve confirmação oficial.
“Eu fiquei a ver navios, porque não trabalho. Eu perdi o amor da minha vida dias antes de completar 30 anos. Não consigo explicar o tamanho dessa dor”, relatou Letícia, emocionada. Ela afirmou que ainda não contou ao filho sobre a morte do pai e está buscando apoio psicológico para lidar com a situação.
A confirmação da morte veio após relatos de soldados presentes no mesmo batalhão. Segundo Letícia, ela percebeu que algo grave havia acontecido antes mesmo do comunicado oficial, ao observar mensagens de militares dizendo que muitas vidas estavam sendo perdidas e que a situação era desesperadora.
Agora, a família enfrenta uma nova batalha: o translado do corpo para o Brasil. O corpo de Daniel permanece em Kiev, capital da Ucrânia, onde aguarda liberação após perícia. O Ministério das Relações Exteriores informou que custeia apenas o transporte de Kiev até Brasília, mas não o trajeto final até Campinas. Para conseguir arcar com os custos restantes, familiares e amigos organizaram uma vaquinha online, que já arrecadou cerca de R$ 11 mil.
Segundo Letícia, não há prazo definido para que o corpo seja liberado. “Eles ficam segurando o corpo para perícia. Não passaram data concreta e as informações estão vagas. Daniel merece um enterro digno e farei de tudo para trazer ele para casa”, afirmou.
Procurado, o Ministério das Relações Exteriores declarou que não fornece informações pessoais de cidadãos que solicitam assistência consular e não comenta detalhes sobre o suporte oferecido em casos individuais.
A guerra entre Rússia e Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, quando tropas russas invadiram o território ucraniano por terra, ar e mar, iniciando um conflito que já deixou milhares de mortos e feridos, além de um enorme impacto humanitário internacional. No último sábado (22), a Ucrânia anunciou um processo de consulta com aliados sobre um possível acordo de paz, após pressão dos Estados Unidos. Documentos preliminares obtidos pela agência AFP indicam que o plano inclui negociações relacionadas às regiões de Donetsk, Luhansk e Crimeia.
Enquanto governos buscam estratégias para encerrar o confronto, histórias como a de Daniel revelam o lado invisível da guerra: vidas interrompidas, famílias destruídas e promessas que muitas vezes não se cumprem.